Nascido em Caxias em 1959, o artista plástico Geraldo Frazão viveu os anos 80 e 90 em São Luís e mora desde 1997 em Londres. Ele se considera pessimista, trágico e romântico. “Minha pintura fala de mim mesmo e do drama humano. Procuro ser honesto comigo e refletir esse sentimento no meu trabalho”. O artista traz um pouco dessa verdade a São Luís neste final de ano. Chega na cidade dia 26 de novembro, dois dias antes da abertura da exposição Gatos, na galeria do Sesc, Condomínio Fecomércio, no Calhau. São 22 trabalhos, a maioria deles resultado de uma parceria com os poetas William Amorim e Roseana Murray. Geraldo Frazão criou 18 obras para ilustrar um livro assinado pelos dois escritores. No vernissage, dia 28, às 19h, fará uma performance inspirada na vida de Pina Bausch, uma de suas referências estéticas.
Quando pinta e expõe, o artista diz não querer conduzir o olhar de quem vê os quadros. “A arte recria o homem e sua existência. É com essa crença que eu crio”. Conversei com Geraldo pelo whatsup num final de domingo, entre o calor do verão de São Luís e o começo do frio, do outono, de Londres. Falamos por mais de uma hora sobre arte contemporânea, São Luís e sua vida na capital da Inglaterra. Perto do fim da conversa, emocionado me disse: “Quero confessar que eu sinto medo, mas procuro viver extremamente de forma corajosa. Precisamos ter coragem por trás do medo”. Saudações a quem tem coragem, Geraldo!
Tua última exposição em São Luís foi em 1997. O que aconteceu de lá pra cá?
A última individual em São Luís foi Em busca de uma imagem, na Galeria Nagy Lages, onde hoje é o Museu do Reggae. Eram quadros abstratos, eu trabalhava com metalinguagem (a pintura falando dela mesma). Aí, fui estudar no Parque Lage (RJ) e conheci o professor Charles Watson, que me abriu possibilidades de fazer cursos fora do país. Depois de curtas temporadas em São Paulo e Nova York, acabei optando por morar em Londres. É uma cidade cosmopolita, conheço gente do mundo todo, adoro a diversidade de raças, cultura etc. Gosto de perceber a diferença das estações, sair mais no verão, me recolher no outono e no inverno. Quando cheguei, fui estudar mixed media na Ce ntral Saint Martins; em seguida, fui fazer um BTEC teórico e prático, no Chelsea College of Art. Estudamos Duzan Sontage, Walter Benjamim e técnicas contemporâneas como transferência de fotografia, manipulação digital, apropriações etc.
Como tu vivencias esse distância em relação a São Luís ?
Escolhi essa distância, me sinto confortável. Algumas vezes não foi fácil, mas eu nunca me permiti sentir saudades. Fui extremamente racional com meus sentimentos. Claro que sempre vivi à flor da pele. Com a distância aprendi a me ver de fora.
Tu também tens formação profissional na área de moda. Como é a relação desse trabalho com as artes visuais?
Em Londres, me formei também na London College of Fashion e a moda me sustentou por quase todos esses anos. Embora continuasse pintando e expondo, não tinha como sobreviver com pintura. Só agora estou conseguindo me libertar. Hoje sou apenas um artista plástico, tenho clientes e encomendas o suficiente pra viver.
Que técnicas são utilizadas nos trabalhos da nova exposição?
São 22 obras no total, em que trabalho com apropriações, fotografia digital, reinterpretação, mixed media, pintura, desenho, fotocópia etc. 18 delas são as ilustrações do livro Gatos, de tamanho pequeno (15cm x 11cm), e quatro obras maiores (1m x 80cm). Não quis imprimir um rigor técnico nos trabalhos de pequenas dimensões, estou fugindo dessa preocupação com o domínio da técnica, que pra mim é muito tensa. De uma certa forma, o meu maior cuidado é como o espectador irá dialogar com ele.
Fala um pouco sobre essa parceria com William Amorim e Roseana Murray? Por que os gatos?
O gato é um animal doméstico, próximo, místico, misterioso e é na verdade um espectador. Pode ser você, pode ser eu, pode ser qualquer um. Muitos artistas se identificam com os gatos, entre eles eu, William e Roseana. Quando li os poemas deles, me tocou diretamente. Fiquei muito feliz com esse encontro. Espero que as pessoas tenham um impacto com os trabalhos, mas não quero guiá-los. Não sou um curador do olhar do outro. Ele é que tem que fazer as descobertas dele, se transformar. Minha preocupação é fazê-lo pensar, refletir sobre a vida. Não quero que meu trabalho seja apenas pra decorar parede. Ao mesmo tempo meu olhar está voltado para a beleza tr&aacu te;gica, sem ter certeza de nada. Nesse sentido, me identifico com os românticos. Quero confessar que sinto medo, mas procuro viver extremamente de forma corajosa. Precisamos ter coragem por trás do medo.
Quais são as tuas grandes referências no mundo das artes visuais? Passado e presente.
Gosto muito de Gérard Richter, um artista fugitivo do Leste Europeu. Ele dialoga com a fotografia, faz algumas investigações visuais muito interessantes. Outro pintor que amo é o Malevitch. Tem um quadro dele: Quadrado negro sob um fundo branco, que é cheio de significados e significantes, um grande enigma e desafio, que sempre me atraiu. Malevitch me faz pensar e questionar minha existência. Essas referências também passam pela minha mãe, que eu via pintar em casa quando criança, fazendo releituras de flores e jardins. A paisagem que eu pinto é um pouco a paisagem dela. Um pouco do meu olhar como pintor vem dos olhos dela. Meu avô, fotógrafo, também &eacut e; importante. É por causa dele que vejo a fotografia como meio na minha pintura. A emoção de vê-lo revelando uma fotografia foi uma das experiências mais lindas que vivenciei na infância.
Acompanhas o que acontece nas artes visuais em São Luís? Tens interesse em manter diálogo com quem está criando na cidade?
Tenho alguns amigos artistas em São Luís, pessoas que começaram comigo e que embora façam trabalho diferente do meu, procuro manter contato, conversar, encontrar com eles ocasionalmente, uns mais, outros menos. Entre eles Paulo Cezar, Fernando Mendonça, Marçal Athayde, Marlene Barros, Ana Borges. Na medida do possível acompanho o trabalho deles.
Gatos – Exposição de Geraldo Frazão: 22 trabalhos na técnica mixed media, em cartaz de 28 de novembro a 09 de dezembro. Abertura dia 28/11, às 19h, na Galeria do Condomínio Fecomércio, Sesc Calhau, em frente ao Ibis Hotel.
Perfil – Geraldo Frazão: Artista plástico maranhense, reside há 20 anos em Londres. Estudou pintura no Parque Lage, Rio de Janeiro. Na capital da Inglaterra estudou mixed media na Central Saint Martins e obteve BTEC em pintura pela Chelsea College of Arts. Também teve formação no The London College of Fashion. Já realizou várias exposições tanto no Brasil quanto na Inglaterra.
Texto: Celso Borges
Geraldo Frazao,. Deus ama voce,obrigada.Julicimary Gomes Sao Luis MA
Fico feliz em poder prestigiar um artista dessa magnitude.
A arte é a mais bela forma de expressão e liberdade que o humano pode experiênciar.